terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Colocando o passado pra fora.


"Ela cria em mim um amor que já não é só meu. Já faz parte de algo muito maior, que vai além da compreensão do que é humano, talvez além do que poderia ser divino. E eu, que nunca acreditei em deuses ou em anjos, começo agora a ter novos devaneios.
Eu olhava para seu corpo tão perto do meu, e me perguntava se merecia mesmo tudo aquilo. Se já havia sido castigada o suficiente para que pudesse enfim receber tudo o que a vida podia me dar de melhor. Aquele sorriso sincero e infantil e aqueles olhos tão cheios de esperança me faziam sentir que nenhuma criança, nenhuma pessoa, ninguém nesse mundo nunca haveria de me mostrar tanta vontade de viver e fazer dar certo, não como ela. E eu pedia por cada vez mais de sua presença, enquanto seu cheiro me corrompia os pensamentos, quebrava todas as minhas barreiras, estilhaçava meus medos. Medos de mármore, que ela quebrava com a ponta dos dedos. O medo de amar. E a minha mente toda nela. E meu corpo todo no dela, sem medo, sem horário, e com vontade de perder a vida toda ao seu lado. Perder não era a palavra… Se perder, talvez. Sem volta. Um labirinto gostoso, para andar de mãos dadas, devagarinho, cantarolando. Uma praia deserta. Eu só queria me perder nela.
Meus pensamentos gaguejam, e eu só consigo voltar ao início. Ao cheiro de seu cabelo espalhado pela cama. Ao jeito que ela tocava meu rosto e me dizia com verdade, com uma verdade tão absoluta, que me amava. Que me ama. Seus olhos me contavam uma história de séculos, e seu sorriso me explicava detalhadamente toda a rendição. Eu era dela, e ela minha. Eu sou, ela é. Narrar no passado é um hábito, mesmo quando se vive no presente. E eu vivo cada pedaço dela, e cada pedaço meu vive nela, vidrado, enlouquecido por uma presença constante da sua saudade.
Eu digo as mesmas coisas, toda vez. Posso falar dela um milhão de vezes, com um milhão de novas palavras, dirão sempre a mesma coisa. Vocês vão sempre ler a mesma coisa, ouvir a mesma coisa. Mas ela é outra, todos os dias, todas as horas, ela é nova, ela é minha. Uma nova descoberta do que eu amo cada vez mais. Ela me mostrou que eu posso amar sem ensaiar. Sem ter que me esforçar. E eu estou aqui, me repetindo, porque todos os dias nós nos repetimos, e todos os dias nos amamos, e ainda assim o amor é novo. Cada vez que digo que te amo, é um frio novo que me toca o corpo, e me pede pra admitir. Cada vez que digo que te amo, é porque eu sinto que te amo mais do que da última vez que eu disse. Cada melodia, cada sussurro, e sua voz na minha mente e em cada silêncio que eu me encontro, repetindo coisas lindas, me dizendo coisas novas, me dizendo coisas lindas, repetindo coisas novas.  E eu te amo… E eu te amo com as lágrimas que não tenho. Eu te amo com a fé da qual duvido. Eu te amo com tudo o que existe de contraditório e que só me dá cada vez mais certeza, porque somos cheias de contradições, somos erradas, somos contrárias, e ainda assim temos exatamente o que a outra procura, o que a outra precisa. E eu preciso de você. E eu te amo. Te amo mais agora do que a algumas palavras atrás. E vou te amar mais assim que passar do ponto final."

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