domingo, 27 de novembro de 2011

So heartless

Fiquei olhando pela fresta da janela por alguns minutos, observando a garoa fina que brincava de chover no contraste da luz do poste. Toda disforme, sem direção, riscos de água alfinetando o céu para todos os lados feito desesperados. Que chuva triste, o cansaço chegou ao céu, não posso acreditar… Até você? Molhando a janela tão gentilmente, tímida, talvez realmente queira me dizer que está triste. Eu não entendo, só consigo sentir. O que você quer de mim? O que eu quero de mim? Estou cansada, não quero chover mais forte. Acho que vou garoar com você, posso? Vou estender as minhas mãos para fora da janela, me dê as suas também. Você parece fraca, nem molha direito… Do que tem medo? Tão suave que mal posso te sentir. O que houve com você? O que houve conosco? Toda disforme e sem direção, alfinetando o seu céu para todos os lados… Quão estranho isso soa?

Ameno

Se eu tivesse que resumir todo mecanismo da paixão, eu resumiria nesta palavra:previsível. ‘Ouço essa música e lembro de você’. ‘Minha vida ficou melhor depois que você apareceu’. ‘Obrigada por existir’. ‘Incrível como você me faz bem’. Eu aposto todo o dinheiro do planeta que em pelo menos um momento da sua vida você já ouviu ou disse uma dessas frases (se não todas). E é lógico, me surpreenderia se não fosse assim. O início das relações quase sempre se sucede da mesma forma. Não há mal nisso, de forma alguma. O problema é que eu simplesmente perdi o interesse. Enjoei desse mecanismo como quem escuta a mesma música tantas vezes que se cansa. A previsibilidade do processo afetivo me fez enxergar as coisas com mais precisão e agora me sinto insatisfeita com o que está ao meu alcance. Não me surpreendo mais e é difícil encontrar alguém que fale algo diferente do que eu já ouvi diversas vezes. Encontro-me basicamente naquela situação em que você está deitado no sofá, quer mudar de canal, o controle remoto está longe e então você continua assistindo o programa por pura preguiça de levantar. Estaria mentindo se dissesse que hoje não me interesso por ninguém. Há interesse, há afeto, um flerte ali, outro acolá, mas e daí? Eu preciso de muito mais do que as pessoas tem me oferecido. Eu preciso de muito mais do que flerte para sentir vontade de levantar do sofá. Eu costumava a gostar de me atirar na fogueira. Hoje eu passo frio porque aprendi que queima.

Li esse texto em Brainbox