Remar.
Re-amar.
Amar."
Fissura, estou ficando tonta. Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.
Faz um tempinho que não venho aqui, né? E pra falar a verdade a vida nem anda tão corrida. É mais aquele tempo que a gente gasta em uma certa época da vida fazendo coisas banais e repensando sobre tudo o que já fez, o que quer fazer, e se o que está fazendo no momento é o certo pra chegar onde quer. Vou dizer-lhes que quanto mais penso, mais vejo que minha vida está tomando o rumo contrário do que eu quero, seguindo uma linha que, para mim que estou vivendo isso, parece não ter fim. Quanto mais eu reflito, mais eu me estresso, pra falar a verdade.
E é por isso que ando falando tantas banalidades, rindo de qualquer porcaria e meio que ferrando comigo mesma. Mas não é de propósito, sabe? É só um reflexo, mais ou menos "vou me ferrar toda antes que alguém venha e faça isso por mim". Pode ser consequência da insegurança, do medo do desconhecido e do que o futuro reserva... E como já entrei no assunto, esses dias comecei a reparar em umas amigas e em como elas se sentem inseguras em relação à muitas coisas. Nem preciso dizer que lembrei de mim mesma, de toda a minha trajetória de vida de 16 anos na insegurança e timidez.
Nunca fui exatamente uma garota bonita. De verdade. Nunca me achei realmente bonita e acho que não vou achar tão cedo. Conforme ia crescendo era evidente: enquanto todas as minhas amigas pareciam ter um jeito natural pras coisas comuns a meninas da nossa idade, eu era sempre a que queria coisas diferentes, nada estava bom, eu era sempre a desajeitada. Porém sempre com insegurança pra mudar algo no cabelo, e mesmo me vestido igual a todo mundo, eu parecia estranha. Sempre fui tímida e muito raramente contava mais do que cinco contatos numa turma. Fui a última a fazer muitas coisas, mas quando criei coragem pra vida, as coisas melhoraram relativamente. São incríveis as coisas que você pode fazer a partir do momento em que acredita em si mesmo. Eu estava sempre ali, meio capengando, meio sendo a amiga esquisitinha.
Mas sinceramente? Não é uma coisa da qual eu me queixe. Penso que talvez, se eu tivesse sido a amiga bonita e simpática, não tivesse me permitido tantas coisas. Já tendo mesmo a consciência de que eu não dava pra ser uma pessoa normal, sempre me permiti inovar. Talvez, e só talvez, a ausência de beleza tenha criado algo bonito em mim. Um visual, um gosto, uma personalidade diferente. Criou em mim uma espécie de ousadia que eu não teria se tivesse ouvido um "como você é linda" a vida inteira. Aos poucos, construí beleza em mim de uma forma diferente e penso sinceramente que seja mais divertido assim. Existem muitos padrões por aí, e em algum lugar alguém vai ver isso. Mas não importa, desde que eu mesma veja.
E, voltando às minhas amigas inseguras (até parece que eu não estou no grupo), que as vezes pedem conselhos e eu fico um bom tempo sem dizer nada, peço desculpas. Confesso que já dei conselhos ótimos e adoraria aplicá-los à minha vida atualmente, mas não sou mais assim. Odeio dizer algo e simplesmente não aplicar aquilo à minha vida, e com os conselhos que distribuia estava acontecendo exatamente isso. E claro, vivo me lembrando de que eu não sei de porcaria nenhuma, e acredito eu que poucas são as pessoas que sabem de algo.
Porém, antes de ir, gostaria de deixar claro uma coisa que aprendi com o tempo, e isso nem chega a ser um conselho, sim? As vezes, volta e meia, bate aquela insegurança na hora de sair pra balada com as amigas, ou ir puxar assunto com aquela pessoa que faz seu coração bater mais forte, ou até mesmo mudar o visual e fazer algo que sempre quis fazer. A regra é simples: é só lembrar que o importante mesmo é abrir aquele sorrisão e se divertir, porque a beleza também é uma questão da sua atitude em relação ao mundo lá fora, certo?