Coloquei o passado num barco e disse adeus. Deixei a maré se encarregar de levá-lo para longe, fora de vista.
De vez em quando, entretanto, ainda vejo a proa ao longe, sendo empurrada de volta à praia pelos ventos fartos. Nesses momentos em que o barco se faz a mostra, encarrego-me de não olhar. Levo meus olhos para um pôr do sol que brilha sem pudor ou contemplo a lua brilhando majestosamente, acompanhada de um punhado de estrelas que há muito se apagaram. Eu me recuso a fitar a proa do barco porque por alguns segundos posso me perder novamente no passado que nele despejei. Esse barco é a minha dor. É a marca que ficou em mim de tal forma. Esse barco sou eu. E eu digo adeus.
Eu rezo ao mar para me ajudar, fazer sua parte e levar tudo isso embora, lavar tudo isso pra fora e ele há de me ouvir quando peço, baixinho, com alma da criança de bom coração que ainda existe em mim, sem forças pra gritar e sem o desespero de todos os dias: leve o barco embora, mar. Eu mereço ser feliz.
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