domingo, 27 de novembro de 2011

Ameno

Se eu tivesse que resumir todo mecanismo da paixão, eu resumiria nesta palavra:previsível. ‘Ouço essa música e lembro de você’. ‘Minha vida ficou melhor depois que você apareceu’. ‘Obrigada por existir’. ‘Incrível como você me faz bem’. Eu aposto todo o dinheiro do planeta que em pelo menos um momento da sua vida você já ouviu ou disse uma dessas frases (se não todas). E é lógico, me surpreenderia se não fosse assim. O início das relações quase sempre se sucede da mesma forma. Não há mal nisso, de forma alguma. O problema é que eu simplesmente perdi o interesse. Enjoei desse mecanismo como quem escuta a mesma música tantas vezes que se cansa. A previsibilidade do processo afetivo me fez enxergar as coisas com mais precisão e agora me sinto insatisfeita com o que está ao meu alcance. Não me surpreendo mais e é difícil encontrar alguém que fale algo diferente do que eu já ouvi diversas vezes. Encontro-me basicamente naquela situação em que você está deitado no sofá, quer mudar de canal, o controle remoto está longe e então você continua assistindo o programa por pura preguiça de levantar. Estaria mentindo se dissesse que hoje não me interesso por ninguém. Há interesse, há afeto, um flerte ali, outro acolá, mas e daí? Eu preciso de muito mais do que as pessoas tem me oferecido. Eu preciso de muito mais do que flerte para sentir vontade de levantar do sofá. Eu costumava a gostar de me atirar na fogueira. Hoje eu passo frio porque aprendi que queima.

Li esse texto em Brainbox

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